A pandemia tolheu inúmeras iniciativas e afastou as pessoas. As Visitas de Estudo, que integram os PAA’s de qualquer organização escolar, estiveram ausentes durante mais de dois anos. Foi muito tempo e isso fez mossa.
Quando se fizer o estudo sério destes tempos pandémicos saberemos até que ponto nos afetaram em termos de saúde física e mental.
Retomar as Visitas de Estudo do EFA S impôs-se à equipa pedagógica do mesmo como obrigação. E isso foi abordado, com alguma insistência, quer nos nossos assíduos contactos informais, quer nas reuniões formais. Havia constrangimentos a superar, sendo o maior a falta de financiamento. Com alguma persistência e ousadia conseguiu-se remover, quase totalmente, o obstáculo do financiamento e, feitas as devidas e legais diligências, junto dos órgãos do Agrupamento chegou-se à aprovação do projeto de “Visita de Estudo ao Alentejo” que viria a sofrer algumas alterações exigidas por certas condicionantes circunstanciais. Os objetivos mantiveram-se intactos e a visita às instalações da empresa “Delta Cafés”, de Rui Nabeiro, em Campo Maior, tornou-se uma certeza, graças aos contactos institucionais estabelecidos através das colegas Nazaré Brito e Conceição Brito que, desde o início, se empenharam para que este sonho se tornasse realidade. Um reconhecido agradecimento à vossa melhor colaboração e demonstração de profunda amizade.
Quanto ao itinerário, no seu conjunto, e outros potenciais sítios a visitar, tudo dependeria de uma resposta positiva por parte das entidades contactadas. Neste trabalho de prospeção, ponderado, minucioso e paciente, para já não dizer, também, diplomático, distinguiu-se, com nota altíssima, o colega formador Rui Pessoa.
Como todos sabem o curso EFA S tem uma equipa tecnicopedagógica que trabalha, efetivamente, como equipa e isso tem reflexos muito positivos em tudo o que faz pelos seus formandos.
Nesta pequena e despretensiosa crónica, que as fotografias ilustrarão sobejamente, queremos apenas realçar alguns aspetos considerados muito importantes numa perspetiva de formação ligada à realidade cultural e social do nosso país. Quase três anos de covid, com todos os condicionalismos impostos, exigia que um certo relacionamento informal fosse posto em prática fora de portas. E foi esse sentido primeiro que colocámos na ação iniciada em 24 de junho, pelas 7.00h e concluída em 25 de junho, pelas 20.15h.
Teoricamente foram concebidos vários itinerários possíveis a seguir nesta Visita de Estudo, sempre condicionados por dois fatores essenciais: o dinheiro disponível e o transporte. Conseguidos os dois, quase na perfeição, a Visita estava garantida mesmo que outras condicionantes pudessem obrigar a alterações pontuais, como aconteceu
com a programação prevista para sábado, ao Alqueva que acabou por não acontecer devido a constrangimentos legais com o horário de descanso do nosso brioso e muito profissional motorista, o sr. Bruno Ferreira, a quem agradecemos pela sua melhor colaboração.
Procuramos seguir um itinerário que nos colocasse a tempo e horas nos locais a visitar de forma mais demorada. Assim, chegados a Santarém, com uma pequena paragem técnica para provar a doçaria local e passagem pelas Portas do Sol rumámos a Coruche para, por volta das 11.00h, começarmos uma visita ao Núcleo Rural de Coruche – Museu Municipal de Coruche que, em 2019, recebeu o prémio “melhor trabalho de museologia”, atribuído pela Associação Portuguesa de Museologia, escolhido entre 190 candidaturas. Convém referir a razão desta distinção: «pelo trabalho efetuado no âmbito da promoção cultural e representação do mundo rural. O Núcleo Rural de Coruche, tem patente duas exposições. A exposição temporária “Um Quartel de Memórias” uma homenagem aos Bombeiros Municipais de Coruche, e a exposição de longa duração “Dos Ranchos de Gente às Máquinas de Mil Braços”, exposição que regista as profundas alterações ocorridas nas paisagens do Vale do Sorraia, bem como as mudanças económicas, sociais e culturais vivenciadas pelas comunidades coruchenses durante o processo de mecanização da agricultura. O espaço “Centro de Artes, Ofícios e Saberes Tradicionais”, do Núcleo Rural, é um espaço de memória, mas também de vivências e experimentação associado à cultura rural local, com destaque para as atividades artesanais relacionadas com os ofícios e as práticas culturais em desuso, nomeadamente as profissões tradicionais e a recriação do ambiente vivido nas tabernas e mercearias no final do século passado.»
Foi um momento de intensa comunhão com as vivências e experiências das populações do vale do Sorraia. Extremamente competentes os funcionários que nos acompanharam neste trabalho até nos garantiram um restaurante de referência com escolha da ementa à saída do Museu. Pessoas disponíveis, prestáveis, afáveis…gente bonita!
No restaurante fomos muito bem servidos, pagando cada qual a sua conta já que a “tesouraria” do grupo apenas iria funcionar no jantar em Évora e no almoço do dia seguinte. Reconfortados pelo almoço e simpatia dos funcionários voltamos ao nosso autocarro para nos dirigirmos a Évora onde visitamos demoradamente a Fundação Eugénio Maria de Almeida, criada em 1963 por Vasco Maria Eugénio de Almeida. Apenas como curiosidade importa referir que a materialização dos objetivos desta notável Fundação se refletem na requalificação do «Convento da Cartuxa como centro de vida espiritual, na construção do Oratório de S. José orientado para a formação escolar e profissional de milhares de crianças e na criação, em 1964, e manutenção, em colaboração com a Companhia de Jesus, do ISESE – Instituto Superior Económico e Social de Évora que iniciou a restauração da Universidade de Évora e formou centenas de quadros e altos dirigentes da administração pública e privada. A partir da década de 80 do século XX, após a devolução dos bens expropriados no período da Reforma Agrária, a Fundação iniciou uma fase de relançamento patrimonial e criou uma exploração agropecuária e industrial de referência que visa garantir a autossustentabilidade económica da Instituição e a prossecução dos seus fins, contribuindo ainda para a promoção do desenvolvimento económico e social da região. Neste projeto destaca-se a vitivinicultura e a oleicultura, atividades das quais resultam os vinhos produzidos na Adega Cartuxa e os azeites produzidos no Lagar Cartuxa.
A consolidação económica e financeira da Fundação permitiu-lhe iniciar, em 2001, uma nova etapa de desenvolvimento de projetos próprios no campo da Missão, para além do reforço da distribuição de subsídios e apoios por um leque diversificado de instituições culturais e sociais da Região.»
Antes de fazer o “check-in” em dois Hotéis da cidade demos uma volta pela Praça do Geraldo. Distribuídos pelos Hotéis, autocarro parado para descanso do motorista, marcámos encontro, pelas 21.30h no Restaurante Repas, perto da conhecida Capela dos Ossos, onde jantámos e convivemos demoradamente. Depois a Feira de S. João (enorme no espaço e com multidões animadas) atraiu a nossa atenção. Infiltrados naquele caos organizado, houve comida, bebida, dança, dizem as “más-línguas” que alguns nem foram à cama, trocaram-se piadas, a feliz descontração marcou muitos pontos…
Manhã de 25/6, 9.30h (descontados os atrasos) saímos de Évora rumo a Campo Maior. Aqui tivemos a experiência única e desejada, o encontro com Rui Nabeiro, no Centro de Ciência do Café. Foi emocionante este encontro com um homem inovador e exemplar no universo empresarial, um humanista com grande sensibilidade social, um homem humilde e afável, com uma simpatia contagiante. Foram, sem dúvida, os contactos de proximidade, de Pedro Romão, marido da colega Conceição Brito e colaborador da empresa “Delta Cafés”, que tornaram possível termos o Comendador Rui Nabeiro a honrar-nos com a sua presença na abertura da pormenorizada visita que fizemos ao Centro de Ciência do Café, um espaço recheado de surpresas. Os momentos ali vividos ficarão na memória de formandos e formadores. É reconfortante privar de perto com pessoas desta grandeza humana e olhar para um projeto concretizado que bem pode tornar-se numa referência mundial.
O comendador, e agora também Doutor Honoris Causa, pela Universidade de Coimbra, Rui Nabeiro, cuja vida sempre esteve ligada ao café, pretendeu «criar um espaço com características únicas em Portugal, na europa, e mesmo a nível mundial, que transmita o conhecimento existente sofre temáticas relacionadas com o café. É um edifício com uma área total de 3426 m2, que está localizado na simpática vila de Campo Maior, ponto estratégico para ser visitado quer por portugueses, quer pelos vizinhos espanhóis. Um centro moderno que alia conhecimento, divulgação técnico-científica, informação, atividades interativas e que pretende divulgar a cultura do café e promover espaços dinâmicos do conhecimento e lazer e onde se estimule a curiosidade e o desejo de aprender.»
Por volta das 13.30h foi altura de procurarmos um sítio para comer. As emoções vividas abriram o apetite. Com tanta sorte (e a prestimosa colaboração da colega Conceição Brito) fomos parar a um Restaurante de nomeada, em Campo Maior, que nos serviu uma refeição simples, saborosa, de grande qualidade e muito em conta, considerando as nossas parcas possibilidades financeiras.
Depois iniciámos o regresso, com paragens técnicas em Castelo de Vide e Coimbra.
Formandos e formadores tiraram muitas fotografias, fizeram perguntas, conheceram realidades que são do Portugal de ontem, de hoje e que continuará a ser no futuro se o amarmos e soubermos preservar. Uma nota muito singela para referir as oportunas e lúcidas intervenções do colega formador, Abílio Duarte, que muito enriqueceram o debate em torno das realidades visitadas.
Muitas dessas fotografias (testemunho vivo e vivido) irão documentar esta pequena crónica. No essencial o nosso olhar mais atento esteve presente em três sítios de um Portugal tão pequenino na geografia, mas enorme em tanta coisa bonita e digna de
ser olhada com outra atenção, com outro carinho. A grandeza dos lugares e das pessoas não se mede pelo estatuto económico, mas pelo que representam em termos de desenvolvimento humano e promoção do bem comum, uma expressão tão desprezada nesta mentalidade neoliberal que endeusa o individuo e minimiza o Estado.
Uma atividade desta natureza resulta quando convergem boas vontades, ousadia e carradas de paciência. A lição foi eloquente. Todos entenderam que a tão falada excelência (se existe) está na caleidoscópica forma de percebermos, vivermos e construirmos realidades novas que expressem a nossa beleza interior.
Um enorme obrigado a quantos ajudaram (também aos formandos que puderam e quiserem participar e aos formadores que idealizaram, projetaram e criaram as condições de realização), particularizando a direção do Agrupamento de Escolas, nas pessoas da senhora Diretora e senhor Subdiretor, e a Câmara Municipal, na pessoa do seu Presidente, Dr. Paulo Catalino que, após tomar conhecimento deste projeto, imediatamente assumiu o seu incondicional apoio, material e logístico, de modo a proporcionar igualdade de oportunidades aos formandos do curso EFA S, numa Escola Inclusiva e para Todos. De salientar ainda o gesto de grande elevação e simbolismo que o Presidente da Câmara manifestou no envio de lembranças do município para agraciar o senhor Comendador Rui Nabeiro.
O curso EFA S, do Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal, foi um digno “embaixador”, por terras do Alentejo, do concelho de Carregal do Sal, com a mensagem do conhecido humanista, Aristides de Sousa Mendes, cantada em verso, no livro “O cônsul português em rimas de acentos humanitários”, de Hermínio Cunha Marques.
Terminamos com um belíssimo e sugestivo pensamento que resume esta viagem ao Alentejo de formandos e formadores do EFA, a encerrar mais um ano letivo: “A coisa mais importante da vida não é aquilo que nos acontece, mas o que fazemos com aquilo que nos acontece.”
P’ equipa tecnicopedagógica do EFA S,
Óscar Paiva